Como as práticas ‘maker’ podem chacoalhar alguns pilares corporativos

*Por Heloisa Neves, co-fundadora da consultoria maker We Fab.
Fonte: Newtrade.com

Nosso mundo vem passando por grandes transformações desde que o digital foi incorporado e provocou uma quebra de paradigmas, e isso tem alterado nossa vida pessoal e profissional. Cada vez mais vemos pessoas que buscam também um propósito no trabalho. Algumas delas decidem abrir seus próprios negócios. Quem trabalha dentro de empresas espera que as companhias passem a agir dentro de um padrão contemporâneo de metodologias e práticas que tragam mais resultados, sejam mais ágeis e conversem diretamente com os valores de cada um, seguindo princípios já instaurados no mundo dos negócios pelas grandes empresas de tecnologia e pelas startups. Mas o que isto tem a ver com o universo “hands-on” da cultura maker?

Algumas destas práticas buscadas por intra-empreendedores e por grupos corporativos são recorrentes dentro do universo dos makers. Aliás, eles são grandes praticantes de soluções ágeis, colaborativas, com sentido, além de seguirem à risca o caminho tão usado por startups: falhar cedo, rápido e sempre (desde que aprendamos algo com esta falha). Mas será que práticas criadas dentro de garagens ou espaços caóticos e repletos de ferramentas de fabricação podem auxiliar no desenvolvimento pessoal e de produtos, processos de inovação ou mesmo auxiliar no real fortalecimento da comunicação entre áreas de uma empresa?

Geralmente, os primeiros resultados dessa conexão aparecem no desenvolvimento pessoal através de uma mudança de cultura, já que a atitude maker facilita o aprendizado de uma nova postura de vida, um jeito diferente de olhar o mundo e se conectar com ele através de um posicionamento mais autônomo, flexível e atingindo um pensamento mais inovador.

No entanto, práticas maker, quando bem aplicadas, podem trazer benefícios também na forma como as equipes gerenciam e desenvolvem projetos e processos. Falarei em outra oportunidade sobre atividades capazes de trazer estes benefícios bem como alguns cases de grandes empresas que as adotaram. Por agora, gostaria de elencar alguns pilares do dia-a-dia que podem ser movimentados quando um grupo corporativo decide abraçar práticas ditas “mão na massa”.

1/ COMUNICAÇÃO — os ‘makers’ fazem mais e falam menos
Esta prática tem efeito direto em reuniões demoradas, sem propósito e que acabam sem nenhum resultado prático. Se utilizarmos o jeito ‘maker’ de ser, não teríamos reuniões de mais de uma hora e nunca sairíamos delas sem uma visão concreta do que está sendo dito. Também utilizaríamos desenhos e modelos em papel ao invés de slides com poucas definições do que fazer logo que a reunião acaba.

2/ COLABORAÇÃO — se um ‘maker’ não sabe algo, ele busca alguém no mundo que saiba
Esta prática pode trazer grandes resultados a projetos que estejam estagnados porque falta um conhecimento ao grupo ou uma forma diferente de pensar o problema. Num caso como este, dentro de um processo de desenvolvimento de produtos, por exemplo, makers buscariam entrar em contato com pessoas que trabalhem na área e que tenham experiência prática em desenvolver o tema de forma inovadora. Esta pessoa seria convidada a vir trabalhar junto, seja em forma de consultoria ou compartilhando direitos do projeto para garantir o melhor time de pessoas, o tão almejado ‘dream team’ que irá fazer com que a ideia deixe de ser somente um projeto longínquo e possa ser posto em prática em tempo recorde e com qualidade.

3/ AGILIDADE— ‘makers’ gostam de chegar rápido à resposta sem ficar presos a burocracias. São muito impacientes!
Agilidade é algo que todos buscam hoje em dia porque sabemos que é a única forma de competir no mercado atual. Esta prática traz resultados quando se quer colocar um produto bastante inovador no mercado. Mas como alcançar agilidade, principalmente em grandes empresas, sabendo que sua estrutura ainda é bastante burocrática e rígida, na maior parte dos casos? Hackeando! Ou seja, makers tentariam encontrar maneiras de ir pelas brechas do sistema. Sem medo. Porque confiam que o resultado vai compensar todos os possíveis pequenos perigos corridos durante o projeto. Existem exemplos de empresas que estão conseguindo burlar estas táticas, criando estratégias como criação de ‘spin-off’ para projetos que precisem de uma estrutura e processos novos, ou mesmo implementando processos diferenciados dentro de estruturas já existentes. Hackathons (quando bem realizados), Sprints ou mesmo desafios que contam com público externo podem ser alternativas.

4/ PROTOTIPAGEM— a linguagem do ‘maker’ é o protótipo. Maker pensa e fala pelas mãos
Esqueça prototipagem da forma tradicional, como uma representação de ideias ao final do processo de projeto. Prototipagem ‘maker’ tem a ver com solucionar problemas em todas as etapas do projeto através de protótipos que são definidos em: baixa, média e alta fidelidade. Maker prototipa para pensar, comunicar e agilizar processos. Makers usariam a prototipagem para entender os detalhes de cada etapa, se comunicar melhor com o time, prever futuros problemas, validar a ideia com o usuário e finalmente, garantir maior sucesso ao projeto, quando lançado. ‘Makers’ prototipam em todas as etapas de um projeto: desde o conceito até a pré-industrialização. Adoro uma frase que ouvi certa vez de Benjamin Carlu, diretor do Usine.IO, um espaço em Paris que auxilia no desenvolvimento de estratégias que vão desde a prototipagem até a manufatura: “Prototype not PPType” (prototipe e não PPTipe, em referência aos famosos slides de Power Point.

Fonte: publicado em https://newtrade.com.br/carreira/ no dia 15 de maio de 2018.

Redação
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